Mr. Magoo vai ao Louvre  
     
 
Ciro Cozzolino entrou no circuito das artes em 1983, na importante exposição
 
  Pintura como Meio – na qual também despontavam Leda Catunda, Sérgio  
  Niculitcheff, Sérgio Romagnolo e Ana Maria Tavares. Naquele momento, em todo  
  o mundo, ainda em decorrência da revolução temática trazida pela pop art nos  
  anos 60, as personagens de histórias em quadrinhos e outros signos da cultura de  
  massa iam povoando o universo da pintura erudita. Por sua vez sua linguagem era  
  contaminada pela dos graffiti de rua, rudimentar, direta, de comunicação imediata.  
  Foi nessa intersecção que Ciro encontrou seu nicho expressivo. O que o  
  distinguiu, desde logo, foi a expansividade, se não a alegria, o bom humor. Nunca  
  pretendeu fazer com sua arte qualquer tipo de metáfora, paráfrase ou denúncia.  
  Durante três décadas, todos acreditamos que este último era o universo da pop  
  art. No entanto alguns de seus exegetas passaram a falar do “decidido otimismo”,  
  de um “otimismo sem rebuço” a ela subjacente (Lucy R. Lippard), e de  
  “celebração” de “nossa civilização comum” (Alan Solomon). Nesse sentido, pois,  
  Ciro captou e personificou melhor que ninguém, no Brasil, o espírito pop. Outra  
  tendência dos anos 80 em diante tem sido tomar a arte como assunto da própria  
  arte. O gesto precursor de Duchamp ao pintar bigodes na Mona Lisa gerou os  
  mais variados desdobramentos, hoje em dia. Ultimamente Ciro Cozzolino –  
  sempre contagiantemente bem humorado – tem colocado seus personagens (de  
  National Kid a Mutt e Jeff, passando por Mr. Magoo) dentro de visitas  
  monocromáticas ao Louvre. Evidentemente não é desrespeito. É uma curtição  
  pessoal que devolve à arte uma função rara, na modernidade: a de nos possibilitar  
  sorrir com inteligência.  
     
 
Olívio Tavares de Araújo 2006
 
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